Software Livre: Implicações sociais

1. Software Livre: Implicações sociais

Cristian Chaves Rodrigues
Cristian_Chaves

(usa XUbuntu)

Enviado em 20/05/2016 - 19:18h

Gostaria de propor para vocês uma discussão.

Já há algum tempo me interesso pelo software livre e o movimento que o encabeça. Conheço muito bem as inúmeras vantagens técnicas que ele proporciona, mas sinto falta de informações a respeito de suas qualidades sociais, ou seja, o impacto do software livre para resoluções de contradições sociais, que levem a uma sociedade mais justa e igualitária, equânime, se quiserem. Tenho interesse em desenvolver uma dissertação sobre o tema, mas considero importante, para isso, a troca de ideias entre os adeptos tanto do uso como da filosofia do software livre.


"O software livre altera o regime de propriedade do código: ele possui autor(es), mas não um dono que controle o destino daquele produto ou que realize com ele as trocas típicas do mercado capitalista. Como o autor do software livre não pode impedir que um usuário que tem em mãos esse software faça uma cópia e entregue a outro usuário, a comercialização do programa é bastante difícil e oferece lucro muito baixo. Esse regime de propriedade diferenciado traz consequências para o modo de produção. A não ser que haja algum cliente interessado em uso direto do software, e que possa arcar com os custos totais do pagamento dos trabalhadores, economicamente não é viável financiar a produção total de um software livre como empreendimento comercial. Como não se trata de produzir algo que poderá ser trocado no mercado capitalista de modo típico, a força de trabalho precisa ser arregimentada mediante a sedução de pessoas dispostas a dedicar tempo voluntário ao software livre. As empresas que oferecem seus trabalhadores para a manutenção de algum projeto de software livre em geral o fazem por obterem com os programas lucros indiretos (prejudicar uma empresa concorrente, por exemplo, ou vender serviços agregados a esse programa de computador)

34o Encontro Anual da Anpocs
O movimento software livre, suas divisões políticas e suas ideias
ST02: Ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura
Rafael Evangelista


Dissertem.


  


2. Re: Software Livre: Implicações sociais

Hugo Cerqueira
hrcerq

(usa Outra)

Enviado em 20/05/2016 - 20:58h

"a comercialização do programa é bastante difícil e oferece lucro muito baixo"

Discordo desse trecho. A comercialização de software livre é sim viável, porém não é feita da mesma maneira que no caso do software proprietário. O modelo de negócios do software proprietário é baseado em licenças de uso, ou seja, paga-se pelo uso do software, como se ele fosse um produto fechado e uma propriedade nominal e intransferível.

Porém sabemos que software não é físico, não é palpável. Software é um conhecimento e como tal é facilmente replicável e modificável. E o software livre oferece modelos de negócio que se baseiam sobre esse princípio. Esses modelos de negócio se resumem em uma palavra: serviços. Já escrevi um artigo sobre esse tema, inclusive, e aqui fica a dica de leitura:

https://www.vivaolinux.com.br/artigo/Modelos-de-Negocio-para-o-Software-Livre/

Em resumo, o modelo de negócios baseado em licenças (do software proprietário) é um modelo que para se sustentar necessita que o software não seja facilmente replicável ou modificável, pois isso impactaria na lucratividade que o software poderia proporcionar. Daí vem a prática de esconder o código e criar amarras no software como bloqueio de atualizações quando é detectado que a licença não é original.

Os modelos de negócio do software livre não requerem essas práticas porque nestes, quanto mais o software estiver difundido, maior a lucratividade.

---

Atenciosamente,
Hugo Cerqueira


3. Re: Software Livre: Implicações sociais

Cristian Chaves Rodrigues
Cristian_Chaves

(usa XUbuntu)

Enviado em 26/05/2016 - 11:03h

Obrigado pela indicação, é insisto que essa discussão e rica e pouco comum aqui no vol.

Concordo com você, os modelos de negócio para o software livre têm sido cada vez mais inovadores. Esse seminário é relativamente antigo, e considera poucas variáveis na análise dos sistemas em que o mercado de software livre atua. Minha hipótese é justamente essa, como o não-produto software livre, veiculado na comunidade de usuários não necessariamente com fins lucrativos, é transformado em produto através da adaptação do mercado e das grandes empresas monopolistas, como a Microsoft, por exemplo.Ou seja, o âmago e o ênfase das relações sociais entre os usuários e desenvolvedores do software livre, que era regido pela colaboração e cooperação, se torna regido por relações mercantis.


4. Re: Software Livre: Implicações sociais

Hugo Cerqueira
hrcerq

(usa Outra)

Enviado em 04/06/2016 - 16:37h

Eu concordo que este senso de comunidade e colaboração está fraco. Mas eu não sou pessimista em relação a isso.

Eu já vi muitas discussões, a maioria não muito construtiva, diga-se de passagem, em que há dois grupos: um defende que o software deve ser desvinculado de mercado e que deve ser fruto de um esforço colaborativo, exclusivamente. O outro grupo diz o contrário, que software, por envolver custos de produção, deve sempre estar vinculado ao mercado, e que comunidades são coisas secundárias.

Mas eu acho que é perfeitamente possível conciliar as duas coisas, mercado e comunidades. Acho que não existe um nível de maturidade tão grande em nossa sociedade, em que possamos produzir algo de maneira completamente distribuída. Estamos em um estágio em que ainda é necessário que haja um pilar que sustente a produção de um software, um HUB, podemos dizer assim, que dê um direcionamento a essa produção. Pode ser uma empresa, uma fundação, uma ONG ou qualquer outro tipo de organização, mas uma produção desprovida desse ponto central ainda não se tornou viável, se é que vai um dia.

E software, livre ou não, tem seus custos. O mercado, embora tenha seus defeitos, possibilitou que muitos softwares livres de qualidade surgissem. Então eu acho que o esforço necessário, agora, é no sentido de educar pessoas para se interessarem mais por tecnologia. Com isso, teríamos mais pessoas colaborando na construção daquilo que é para todos e reduzindo, portanto os custos de produção. A tecnologia da informação está cada vez mais presente no nosso dia a dia, e as escolas brasileiras ainda estão muito atrasadas em relação a esse ponto. As escolas tratam seus alunos como apenas consumidores de tecnologia, nunca como produtores.

Enquanto isso não mudar, não podemos esperar muito mais do que o que temos hoje. O software livre ainda é alvo de preconceitos justamente por causa desse foco que as escolas dão para os seus alunos: consumidores apenas. Está na hora de mostrar para as pessoas o valor que existe em poder produzir algo.

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Atenciosamente,
Hugo Cerqueira






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