Frase chave: Necessidade por demanda.
Texto anterior:
Linux em casa? Ih... Não tem o botão iniciar!
Você se depara com a seguinte situação: é chamado para fazer uma avaliação em uma empresa, onde a diretoria procura saber qual a estrutura mais adequada para receber, por exemplo, um escritório de contabilidade (dois trabalhos em um, por sinal). Geralmente, qual o primeiro pensamento que vem, até mesmo antes da estrutura física? Servidores e desktops Microsoft! Pelo menos uma boa porcentagem de nós profissionais pensa dessa maneira.
Levantamento de requisitos, necessidades, orçamento disponível para implantação deste projeto etc, um mundo de detalhes a serem levantados, catalogados, organizados e principalmente, avaliados. Quem já não passou por isso? Quem não quer deixar aquela ótima impressão?
Aderindo à salada mista
Converso bastante com amigos do ramo e alguns deles são irredutíveis no ponto software: tem que ser proprietário. Os outros só enxergam escritórios open source. Porque não juntar os dois? Porque não usufruir do melhor de cada um? Porque não uma "salada mista"? Gostaria de compartilhar com vocês a minha experiência aqui na empresa.
Infelizmente a parte dos servidores não cabe a mim. Fica à meu cargo os clientes, a parte de análise e suporte. Como citado acima, aqui é um escritório de contabilidade, contendo atualmente 21 computadores desktop (com Windows XP Professional SP3), 3 servidores (um servidor PDC com Windows 2003 Server R2 Enterprise; um servidor de arquivos + servidor de internet com firewall e controle de tráfego com Mandriva 2008; um servidor de SGBD [Oracle] para o sistema
MXM com Fedora 10) e 1 impressora HP Laser Jet P4015n, via cabo de rede e administrada via browser. Aqui já se percebe a "biodiversidade" do ambiente. Alguns podem perguntar:
"- Não tem problema em juntar softwares da gigante de Redmond (Microsoft) com softwares GNU, aka Tux (Linux)?"
Resposta: Sem problema algum! O diferencial aqui é qualidade de implementação. Não adianta transformar um escritório de contabilidade em um modelo totalmente open source, visando apenas a economia e segurança. Temos questões muito fortes, tais como enumero a seguir:
01) Um setor de Departamento Pessoal não sobrevive sem os programas da Caixa Econômica. São a essência deste setor. Os principais: Sefip,
Grff e
Conectividade Social, são softwares desenvolvidos somente para a plataforma Microsoft. A utilização do Wine, por exemplo, não garante a total funcionalidade destes no Linux.
02) Ainda no setor de Departamento Pessoal, temos as chaves de movimentação de funcionários, feitos através de um navegador. Esse sistema é desenvolvido em Java. Ah, pelo menos esse eu posso utilizar fora do Windows né? Não. Mesmo sendo desenvolvido em Java, o cmt.caixa.gov.br funciona somente e exclusivamente no Internet Explorer 06 e superiores. Ou seja, mesmo que o analista do projeto opte por implantar, por exemplo, o Firefox como browser padrão, sob essas condições o plano acaba por ser descartado.
03) Setor de Contabilidade: boa parte do Mercado Contábil opta pela suíte
Alterdata, que é bem difundida nesse setor. O banco de dados deste sistema é o
Nexus e ambos foram projetados para a plataforma Microsoft.
Novamente, utilização do
Wine não garante a total funcionalidade destes no Linux.
Uma nova pergunta surge: mas e aí, onde que os sistemas open source entram nesta história? Para os itens 01 e 02: já conversei com os analistas da Alterdata e me disseram que está descartada a possibilidade da migração da base de dados + Pack contábil para o Linux. A Caixa Econômica também não dá sinais de interoperabilidade. Para o item 03, infelizmente, ainda não temos softwares alternativos capazes de suprir em totalidade as necessidades do modelo contábil brasileiro, inclusive o novíssimo
SPED. Bom, mas a pergunta ainda não foi respondida:
"- Onde que os sistemas open source entram nesta história?"
Servidores! Sim, isso mesmo meus amigos, servidores! E não temos limites: servidor de arquivos, servidor de internet, servidor de
PABX, servidor de impressão, servidor de PDC etc! O Linux tem sido a preferência em servidores por questões de personalização das configurações, refinamento nas questões de segurança, administração remota, entre outros. Quando bem configurado e implementado, torna-se uma poderosa ferramenta de trabalho, dando flexibilidade ao negócio.
Conclusão
Tanto o lado proprietário quanto o lado open source podem caminhar juntos, em um mesmo ambiente, em prol da resolução de problemas/necessidades de um escritório, por exemplo. Dei bastante enfoque ao ramo contábil, que é onde trabalho, mas a ideia citada aqui se aplica a qualquer necessidade, de qualquer empresa! A qualidade da implantação deste ambiente misto depende unicamente de nós. Viva a liberdade de escolha e a interoperabilidade das plataformas!
Grato mais uma vez! Sugestões e críticas são bem vindas, sempre! E também estou a disposição para discutir mais sobre o assunto, troca de ideias e compartilhamento do conhecimento.