Por que utilizar o software livre na educação?

O presente artigo contribui para desmistificar a utilização de ferramentas livres no ensino e justifica a utilização do software livre como alternativa à exclusão digital.

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Por: sinara duarte em 24/10/2008


Linux e educação: uma parceria de sucesso



Linux: Por que utilizar o software livre na educação? O software livre nasceu na universidade, todavia rapidamente vem se expandindo nos diversos setores da sociedade. Na educação, a adoção de softwares livres traz inúmeras vantagens frente ao software proprietário, destacando-se inicialmente a questão macroeconômica, pois os custos de manutenção de laboratórios de informática das escolas por meio de softwares livres são bem inferiores se comparados ao software proprietário.

Em alguns casos o software livre é compatível com equipamentos ditos "obsoletos", garantindo assim o reaproveitamento de máquinas antigas, diminuindo os custos com compra de novos equipamentos ou upgrades, permitindo assim que comunidades mais carentes possam apropriar-se das novas tecnologias a baixo custo. Sem contar que tal iniciativa incide diretamente na questão socioambiental ao reduzir a carga de lixo tecnológico, que potencialmente seria descartado na natureza com baixas possibilidades de reciclagem.

Países desenvolvidos como a França e emergentes como China, por exemplo, já encorajam o uso de distribuições livres em instituições escolares e governamentais, na tentativa de reduzir a dependência de empresas americanas, em especial da Microsoft, fabricante do Windows. Desta forma, bem salienta Silveira (2003 p.41), ao invés de sermos eternos pagadores de royalties, "tais recursos poderiam ser canalizados para outros fins, como a compra de hardware ou empregados na formação, treinamento e educação digital", pois tão importante quanto garantir o acesso as TICs é capacitar as pessoas, em especial, as comunidades mais desfavorecidas para a utilização da tecnologia em favor do exercício da cidadania.

No Brasil, o governo do Paraná conseguiu reduzir os custos de implantação de Laboratórios de Informática das escolas públicas por meio da adoção de softwares livres. Experiências como do governo paranaense estão sendo replicadas para outros estados, destacando-se São Paulo, com os Telecentros e o Rio Grande do Sul por meio da Rede Escolar Livre.

Atualmente o governo do Estado do Ceará e a Prefeitura Municipal de Fortaleza adotam o software livre como padrão nos laboratórios de informática educativa locais. A escolha de softwares livres traz inúmeras vantagens frente ao software proprietário, como argumenta Silveira (2003, p.38), destacando-se os fatores "macroeconômico, de segurança, de autonomia tecnológica, da independência de fornecedores e democrático".

A filosofia do Software Livre é baseada, segundo Silveira (2003 p. 45), "no princípio do compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores".

Corroborando com este pensamento, Nunes et al (2008, p.15) acredita que "as quatro liberdades propostas pelo software livre - conhecer, copiar, distribuir e modificar - favorecem sua adoção do contexto da escola pública".

Para Ferro (2008), a adoção do software livre contribui também para o combate à corrupção, uma vez que a obtenção não onerosa de licenças elimina o processo licitatório e diminui a relação, nem sempre sadia, entre o setor público e empresas fornecedoras de software.

Outro aspecto descrito por Ferro (2008) é a questão ética. A opção pelo software livre representaria uma alternativa para todos aqueles recorrem à pirataria quando não podem ou não estão dispostas a adquirir licenças de software para uso doméstico, pois segundo o autor "a prática da pirataria de software tornou-se comum e criou um hiato ético que precisa ser corrigido".

A segurança e a privacidade de informações também são fortes atrativos para a adoção do SL tanto no contexto educativo quanto doméstico, visto que não existe garantia plena de que os programas proprietários não possuam bugs (erros propositais ou não) em seu funcionamento e que os fabricantes (ou algum associado) tenham acesso não autorizado aos computadores e dados pessoais dos seus usuários.

Além das liberdades já conhecidas garantidas pela licença GPL, existe outra "liberdade" permitida ao usuário: a de escolha. O acesso ao código-fonte permite a disponibilidade quase ilimitada de aplicativos para todas as áreas, em especial os softwares educativos, permitindo a personalização, como também contribuindo para redução de dependências das empresas desenvolvedoras de softwares proprietários.

A cada ano cresce o número de software livres educativos em língua nacional. Grande parte deste sucesso deve ser creditada a interatividade das comunidades de software livre, que também tem colaborado para sua difusão na medida em que os projetos são mantidos por indivíduos de diferentes nacionalidades e distribuído na Rede Mundial de Computadores.

Um exemplo disso são as distribuições Edubuntu (Ubuntu), openSUSE Education (SUSE), Skolelinux (DEBIAN), Pandorga (Kurumin), versões customizadas da GNU/Linux exclusivamente de cunho educativo.

Com o advento e a velocidade da Internet, rapidamente defeitos nas distribuições livres são descobertos, corrigidos e disponibilizados em sites, fóruns e listas de discussão acessíveis a todos. A conseqüência desta construção coletiva tem sido a melhoria no desenvolvimento de software livres e a diminuição do preço das licenças de uso de software proprietário para os quais já existem alternativas de software livre de comprovada qualidade.

Segundo Silveira e Cassino (2003), o Software Livre representa uma opção pela criação, pela colaboração e pela independência tecnológica e cultural, uma vez que é baseado no princípio do compartilhamento do conhecimento e na solidariedade praticada pela inteligência coletiva conectada na rede mundial de computadores. Desta forma, o software livre apresenta um caráter libertário, pois permite a democratização do conhecimento, a construção coletiva, o estímulo à colaboração, à autonomia e a independência tecnológica, pois não podemos nos limitar a ser apenas consumidores de produtos e tecnologias proprietárias.

Dentre as limitações do SL, destacam-se: a falta de compatibilidade de alguns hardwares e/ou o desconhecimento do público em geral dos softwares e ferramentas livres, problemáticas fáceis de serem solucionadas a curto prazo. É, portanto, uma alternativa segura, eficiente, socialmente correta, ética, libertária, tecnologicamente sustentável, viável e praticamente está ao alcance de todos. Enfim, a adoção do software livre é imprescindível a qualquer projeto verdadeiramente comprometido com a inclusão digital das camadas mais desfavorecidas.

Ressalta-se que a opção pelo software livre em escolas deve-se, na maioria das vezes, a realidade das escolas públicas que não dispõe de recursos financeiros para regularização de software, elemento fundamental em políticas públicas de inclusão digital aliada a sua filosofia libertária. Segundo Silveira e Cassino (2003), não há porque gastar recursos com softwares proprietários se existem alternativas livres de qualidade similar.

Outra razão relevante na escolha do software educativo é o próprio conceito utilizado de inclusão digital, em uma perspectiva não apenas de acesso, mas também de ambiente colaborativo onde os envolvidos têm liberdade para expressarem seus pensamentos e opiniões. Desta a opção pelo software livre deve-se também a questão da autoria, da partilha, da cooperação e da colaboração.

O simples fato de disponibilizar o código fonte de forma aberta, já é uma ação significativa de exercício de cidadania. Quando este é compartilhado e aprimorado por diferentes pessoas passa a ser uma maneira de quebrar as barreiras impostas pelo capitalismo de hegemonia americana. Criar algo de forma coletiva, com custo reduzido, atrativo, criativo e bem elaborado é um meio de facilitar que mais pessoas tenham acesso as tecnologias digitais.

É, portanto, o Software Livre um instrumento de inclusão social. Em um país em que muitos vivem no limítrofe da pobreza existencial, a concentração de pesquisadores em torno de um projeto que está voltado para a diminuição dos custos de softwares sinaliza a solidariedade para com os excluídos, pois quanto mais a tecnologia estiver acessível a todos, mais teremos apoiadores nos projetos de inclusão social, que passa diretamente por ações educacionais.

Referências

FERRO, E. Software Livre: Avanço tecnológico e ético. Disponível em <http://www.vivaolinux.com.br/> Acesso em 10.08.2008

PROJETO SOFTWARE LIVRE BRASIL. O que é Software Livre? Disponível em <http://www.softwarelivre.org/> Acesso em 10.08.2008.

SILVEIRA, S. A.; CASSINO (Org.). Software Livre e Inclusão Digital. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2003.

   

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Comentários
[1] Comentário enviado por nickolback em 24/10/2008 - 17:04h

O linux só favorece as comunidade mais carentes e assim disponibiliza informação para aquelas que buscam e que não tem dinheiro para mante-las por causa dos custos abusivos dos softwares proprietários ou escolas especializadas.
Adoto a idéia de central de conhecimento ou lan house com o sistema linux.
As escolas e universidades também ensinando a usar o linux acabaria com o maior rival do sofware livre. A falta do conhecimento linux.



[2] Comentário enviado por fabio em 24/10/2008 - 17:41h

Excelente artigo, parabéns!

[3] Comentário enviado por mbmaciel em 25/10/2008 - 12:38h

Semana passada fui chamado para instalar windows XP em 10 computadores com o Linux Educacional de uma escola pública. Teria que deixar como dual-boot, mas só o Windows seria usado para um curso. Me disseram - "tem que deixar o linux, senão os caras podem reclamar". Infelizmente essa é nossa realidade.

[4] Comentário enviado por ProfRobson em 26/10/2008 - 11:08h

Diria "nossa realidade".

Conheço vários laboratórios que mantêm e utiliza o Linux Educacional. Porém grande parte desse sucesso se deve ao Núcleo de tecnologia Educacional (NTE-5) http://br.geocities.com/itabuna_nte05/ que vêm ministrando cursos básicos de informática no próprio laboratório da escola.




[5] Comentário enviado por lmarcosleite em 26/10/2008 - 12:03h

Parabéns pelo artigo. Já está dada a sua nota: 10!

[6] Comentário enviado por sinara em 26/10/2008 - 12:28h

Olá

Para Nickoback: com certeza, a principal barreira é a falta de conhecimento das ferramentas livres, mas percebo que diversas universidades tem se colocado a favor do Software livre como a UECE - que possui o LATTES - laboratório de formação de professores em linux, o Paraná, Rio Grande do Sul, possuem tambem nucleos preocupados com a disseminação do linux nas escolas, mas ainda vejo como algo pequeno.

No mês de novembro estarei no SBIE (maior evento nacional de informatica educativa) que este ano será em Fortaleza, apresentando dois projetos de inclusão digital por meio do linux, como forma de desmitificar o mito do dificil para acadêmicos, estudantes, professores e afins... È um trabalho de formiguinha, mas que tem rendido frutos.

[7] Comentário enviado por sinara em 26/10/2008 - 12:36h

Fábio e Marcos obrigada pelo elogio! Escrevi porque sempre tenho dificuldade em encontrar material escrito na area linux e educação, mas que acredito temos futuros promissores. Por isso que gosto das crianças, nunca tive problemas com elas mas com adultos, estes são mais resistentes.

Modercai, isso acontece porque não há uma reflexão do que seja de fato o software livre e suas liberdades, a maioria das migrações ocorrem por questões financeiras "goela abaixo", isso atrapalha o crescimento da comunidade introgetando impressões erradas nas pessoas.

Robliu, gosto muito do Linux educacional, mas tenho minhas ressalvas da forma que vem sendo gerido, não por uma comunidade, mas parece não tenho certeza, por uma empresa comercial. Além do que é muito pesado, acredito que o professor é que deve escolher a distro que melhor se adeque a sua realidade, mas para isso precisamos acabar com o "desconhecimento" do GNU/linux. Esse é o meu trabalho difundir entre os educadores essa semente e como o semeador, esperar germinar...

Ah, mantenho também o blog Software Livre na Educação, com dicas, cursos, artigos, comentários, avaliações de softwares, enfim, um guia para quem ta começando na educação com o software livre. Se quiserem conhecer: softwarelivrenaeducacao.blogspot.com

[8] Comentário enviado por zoby em 26/10/2008 - 23:51h

Meritíssimo o artigo e trabalho pelo SL na educação. Sinceramente, não entendo c/o qualquer repartição, autarquia ou órgão público pode gastar o dinheiro do povo em licenças de software quando há soluções gratuitas melhores. A única explicação plausível é a velha idéia "o que é público não tem dono".

Discordo da autora quando disse que o problema de incompatibilidade de alguns hardwares é fácil de solucionar no curto prazo. É dificílimo. Ele esbarra na relutância dos fabricantes em divulgar especificações técnicas e no problema causado pelo próprio fato de ser software gratuito: desenvolver drivers requer conhecimento e tempo, uma forma de remunerar é a venda do resultado; este dado de graça, o trabalho dependerá somente da boa vontade e tempo livre dos abnegados. Exemplifico c/ o caso das webcams. A maioria dos drivers p/ elas em Linux foram feitos pelo Dr. Xhaard (não sei se escrevi certo), um médico adepto do Linux e que dedica boa parte de seu tempo livre a esse trabalho sem receber um centavo por ele.

Esse quadro tende a mudar c/ o aumento do número de usuários Linux. Os fabricantes terão interesse em ver seus produtos compatibilizados com os sistemas operacionais que os consumidores pedirem. Isso já é feito pela Smart Link, proprietária dos drivers p/ boa parte dos softmodens atuais.

[9] Comentário enviado por hideoux em 27/10/2008 - 10:10h

olá,

muito bom o artigo!

esse assunto pode ser abordado de vários pontos de vista: econômico para o Estado, econômico para a escola, como possibilidade de desenvolvimento de mentes criativas no governo, como possibilidade de desenvolvimento de mentes criativas entre os alunos, como combate à pirataria e conseqüente educação fiscal para maior arrecadação de impostos para o governo, etc.

enfim, pode-se escolher a área a ser contemplada para usar como exemplo de benefícios do uso de software livre na educação (e isso se formos pensar na educação)...

Sopu educador e acompanho os movimentos do Governo do Paraná para o uso exclusivo de s.l. por aqui (aqui é lei! o governo não compra mais software proprietário... o que não tem para usar, ele cria...)

Mas vale ressaltar um ponto muito importante:

O s.l., em expecial o uso de linux na educação força o governo a investir na educação de professores.
Isso pode ser em forma de cursos diretos aos professores ou por cursos on-line (como é o caso do cdtc - http://cursos.cdtc.org.br/ - para quem é do governo).

Investir nos professores ligados ao Estado, sejam concursados ou não é investir em pessoas e essas pessoas não se desligam do Estado para ir para outros empregos. Ou seja, é um investimento que não se perde, ao contrário de ter de comprar as licensas de softwraes mais popularizados a cada 5 ou 6 anos.

O investimento no professor tem resultado direto na educação do aluno. As aulas mudam porque o professor muda!

abraço,
hideo

[10] Comentário enviado por regis_ricardo em 27/10/2008 - 12:49h

Ótimo artigo Sinara, se tivesse mais pessoas como voce aqui em brasília talvez não seria tão difícil eu conseguir dar aulas de graça pra comunidades pobres, pois eu mesmo estou tentando conseguir isto e mesmo de graça ta difícil !!!

[11] Comentário enviado por eferro em 27/10/2008 - 19:09h

Sinara, parabéns!
Seu artigo é preciso. O uso de software livre na educação no Brasil é uma questão tão lógica, que me espanta termos que defender esta idéia. Seus argumentos são perfeitos e seu texto flui como água das montanhas. Fico orgulhoso em ser citado por você. Um abraço.

[12] Comentário enviado por comfaa em 28/10/2008 - 12:57h

parabens, muito bom


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